segunda-feira, 22 de maio de 2017

Sem-teto

 Sexta-feira de manhã por aí. Feliz, contente e cantando alegremente. Rodoviária. Resolvi acender aquele cigarro de chamar ônibus. Sabe aquele que vai pra lixeira quase intacto? Pois é. Eis que me apareceu um sem-teto que mora nos arredores. Pediu um cigarro. Acendeu, agradeceu e saiu.
            Voltava eu no dia seguinte. Bem mais feliz, bem mais contente e cantando muito mais alegremente do que na manhã anterior (falarei sobre isso em outro post). O mesmo sem-teto que me pedira o cigarro lembrou de mim e veio agradecer novamente. Aproveitou o ensejo e ofereceu um gole de cachaça. Recusei o gole. Ele pegou mais um cigarro e saiu. Voltou, pediu mais um cigarro (para a esposa). Agradeceu novamente e saiu.
            Semana seguinte. O supracitado sem-teto acompanhado da esposa:
            -Ô, negão! ‘Cê mesmo, barbudo! Beleza, gente boa?
            -Opa! De bonissíma e vc?
            -Na santa paz! Seguinte, querido: vai esperar muito aí? Qualquer coisa baixa alí no “barraco” comer uma macarronada com a gente.
            -Valeu, querido, mas o busão acabou de encostar. Valeu mesmo. Outro dia eu apareço pra boia.
            -Falou! – disse ele, levando o que restava no meu maço de cigarros.
            Na semana seguinte, na ida, não os vi por ali. Teriam eles resolvido se mudar? Teriam sido forçados a abandonar a base em razão de uma medida “Doriana”, cada vez mais comum nos nossos dias? Fiquei com a dúvida martelando a cabeça durante todo o fim de semana.
            Dia seguinte. Desembarque na rodoviária. 3 horas de espera pela frente. Carona furou, pra variar. Minhas parcas economias não me permitem fazer refeições decentes em lugares decentes toda vez que estou na pista. Prefiro, em situações assim, almoçar pururuca com cerveja em vez de me arriscar num “risca-faca gastronômico”. No caminho...
            -Ô, barbudo! Ajuda a gente, cara. Rola escorregar umas moedas pra rachar uma refeição com a gente?
            -Peraí que eu já volto.
            Pensei em não voltar, na verdade. Mudei de ideia e fui ao mercado. Pães, mortadela (grana curta...sacumé) e resolvi almoçar com eles. De modo geral não me faz a menor diferença fazer minhas refeições sozinho. Até prefiro, aliás, uma vez que...sabe-se lá que merda não foi consertada na minha arcada dentária...faz um ruído irritante quando como. Enfim...sabe-se lá o porquê...fui no “barraco” deles, que nada mais é do que um antigo cocho ou descanso de animais que, em seu tempo, ralavam puxando carroça.
            -Voltou mesmo, hein barbudo! Ponta firme, você. Ô, Néia, cadê aquelas moedas lá pra gente comprar o Vencetex?
(Digressão: Vencetex é um refrigerante, tipo uma tubaína de 2 litros, muito consumida nessas paragens)
            Conversa começa a rolar entre um pão e outro. Vencetex foi batizado pelo corote. Passei reto. Descobri que o cara que sempre vinha falar comigo se chama Antonio. Tonho, para os amigos. Além dele, Néia (a esposa), Pereba (o nome não era verdadeiro. As perebas, sim), Casadinho (veja só o bullying: o apelido “Casadinho” vem daquele docinho de festa de criança. Metade branco, metade preto. Casadinho tem vitiligo) e uma mocinha, bem mais nova que os demais, que não disse o nome ou qualquer coisa com coisa porque a pedra não deixou. Apresentei-me, mas continuei sendo o "barbudo". Ou negão. Pedi pra tirar uma foto deles ou com eles. Negativo. Tonho explica:
            -Cara, sei que você não vai entender...mas e se essa porra de foto sai num jornal ou nessa internet e a família acaba achando a gente? E se resolvem enfiar todo mundo numa porra de um albergue desses? Cara, a gente curte isso aqui. Deve ser foda pra você entender isso de curtir viver na rua, sem teto, comendo dia sim, dia não...mas é isso aí...
            -Não tá mais aqui quem falou...
            -Leva a mal não, parceiro – agora é a vez da Néia – mas todo mundo aqui já se fudeu na mão das famílias, tá ligado? Ou foi expluso de casa, ou adoeceu e a família não quis saber...essas coisas.
            -Beleza. Entendi.
            Entendi mesmo. Continuei alí, mais ouvinte que falante. Até segurando pra não deixar o cisco entrar nos olhos. Sério mesmo. E a conversa foi rolando e eu estava a ponto de perder o ônibus.
            -Aparece mais aí, mano. A gente é sem-teto mas é do bem!
            -Opa! Pode deixar que eu apareço. (apareci mesmo, na verdade).
            -Cara, foi massa falar com você. Maioria do povo só passa, joga uma grana e tampa o nariz. Você sentou, comeu com a gente e ficou aí quietão ouvindo esse povo falar esse monte de bosta, de história triste e os caralho. Difícil isso, viu?Povo parece que esquece que a gente também é gente. Valeu mesmo, barbudo. Que Deus te dê o triplo dessa preza que você fez hoje.
            Ônibus rumando para o oeste. Há quanto tempo será que eles não conversavam com alguém de fora? O que falta pra que pessoas os vejam como pessoas? Cisco caiu nos olhos. Inevitável.
            Dormi. Acordei no meu destino. Dormi, acordei e rumei para a cidade onde trabalho e durmo três noites por semana. Até hoje passo por lá. Alguns deles se foram...para outras cidades. Muitos vieram e ocuparam seus lugares. A cada fim de semana o “barraco” está mais abarrotado de sem-tetos...
            Engraçado pensar na coisa toda por esse lado. Sem-teto. Como se eu mesmo não fosse um tipo de sem-teto, embora nunca tenha passado por qualquer tipo de privação que os companheiros de lanche passam. Mas a coisa toda se resume a isso...uma espécie mais afortunada de sem-teto.
            Sim, ainda tenho um endereço em Londrina. Não consigo ir pra lá sempre que tenho vontade e o coração me pede...e isso dói, embora há quem diga ou pense que não. Não me falta o alimento e a cama quente parar descansar o esqueleto. Mas falta algo, uma certa estabilidade, um lugar pra chamar de "meu", quem sabe. No mais...vivo perambulando por quatro cidades de três estados diferentes. Durmo, no máximo, três noites seguidas em alguma dessas cidades...nunca em Londrina, infelizmente, pois o horário dos ônibus só permite um bate-volta com tempo insuficiente para matar a saudade do filho e de todas as outras pessoas que amo.
            “Que Deus te dê o triplo dessa preza que você fez hoje”. Não sei quem ou o que é deus. Supondo, claro, que exista um, uma, uns, umas. Por que não? Tambem não tenho resposta para tal questão. Nem quero. Ainda que a saudade me aperte o peito toda vez que respiro, a atual conjuntura - todas as coisas ótimas que têm me acontecido neste ano, todas as pessoas ótimas que tenho conhecido e partilhado da convivência, apesar dos pesares - permite que eu diga pro Tonho que, qualquer que seja o ente que ele considera como sendo “deus”, ele já está me devolvendo a “preza” que ele acha que fiz. Talvez diga isso a ele no próximo fim de semana.

sábado, 22 de outubro de 2016

Sonetando - 1 (inclui breve prefácio)

      "Novos horizontes: se não for isso, o que será?" (H. G.)
      Inicio assim uma nova série da minha parca e porca literatura. Uma vez que a vida anda carecida de guinada, há que se esforçar para suprir a necessidade. Nunca fui um grande leitor de poesia. nunca pensei nas coisas que escrevi ao longo da vida como poesia. Desde as paródias musicais pré-púberes às letras das músicas de quase todas as bandas autorais que integrei. Nunca vi meus escritos como poesia, ainda que bondosas almas afirmem haver poesia em um texto ou outro. Nem mesmo poemas. Considero-me da prosa, ainda que - na falta do etílico - não proseie tanto.
     Assim sendo, inauguro então uma série de sonetos sem título, organizados pelo marcador  "Obscuros são os caminhos do Senhor". A quem quer que os leia, antecipo que não há, da minha parte, qualquer pretensão maior que o desafio de escrever em um formato que nunca escrevi e, confesso, nunca fui grande leitor. Nada de riqueza rimática, temática e surpresas lexicais.
     Uma vez que a vida anda carecida de guinada - e anda! - vejam nesta nova série uma expressão sincera do meu desejo de ratificar a decisão tomada. Fora a necessidade de desabafar sem dar bafão.


Soneto 1

viver de bem, já que agora é pra ser assim
ao que passou: dar um aceno e esquecer
memórias que, parecem, nunca hão de morrer
o que era "dois", tornado em cada um por si

livre é quem ama e sabe aceitar o fim
ou simplesmente não deixa transparecer
cede ao sorriso o lugar que cabe ao sofrer
olvida o que passou em prol do que há por vir

teste fatal, em que sempre há sobrevivente
ileso - ou sequelado, com feridas a curar
não torne mais pesado o fardo a carregar

dê uma chance pra si mesmo e então verá
e, em um belo dia, irá sorrir ao se lembrar
regozijar por ter lutado bravamente.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sobre cachorros

      O mal nunca morre e o diabo nunca dorme. Desgraça pouca é bobagem. Adversidades têm crescimento diretamente proporcional em relação ao desgaste que causam. Nunca acaba: só "raleia".
      Vigilante noturno passa de moto às 2h45 seguido de uma matilha de cachorros. Seria um cortejo? Estariam eles sedentos de vingança e famintos por justiça "com as próprias patas", fosse o caso de atropelamento de um membro da "cãofraria"?
      Pois bem...eram 2h45 e eu deveria estar dormindo. Mas resolvi que seria melhor ficar fumando na varanda. Velhos hábitos, quando deixados de lado e dados como mortos, retornam com sangue nos olhos e com muita vontade de compensar o tempo perdido. E trazem consigo válidas constatações. Choques de realidade mais doloridos que o encontro de salto 15 e testículos. Havia um tempo em que eu reclamava por acordar de madrugada para fumar. Hoje a igreja glorifica de pé nos momentos de cochilo entre os cigarros. Caralho: comprei um pacote com dez maços sábado e já acabou tudo.
      Mas eu queria mesmo é falar sobre a matilha que seguia a moto. Nunca vi tantos cachorros de rua por estas bandas. Contei 13. Havia mais. Mesmo eu, que passo longe de ser um defensor dos animais, fiquei preocupado e pensei sobre alguma situação atípica que poderia tê-los afugentado. Não sei. Assim como não sei do paradeiro deles. Mas pude notar que, por pior que seja o fim que os aguarda, eles hão de enfrentá-lo juntos. Um por todos e todos por um.
       O mal nunca morre e o diabo nunca dorme. Desgraça pouca é bobagem. Adversidades têm crescimento diretamente proporcional em relação ao desgaste que causam. Nunca acaba: só "raleia".Mas eles hão de resistir, ainda que sem êxito. Juntos. Invejo-os.

sábado, 26 de março de 2016

Carta ao "antes/passado"

       Well, well, well... óinóisaquitravêiz. Alguém sentiu minha falta? Não respondam (embora eu prefira acreditar que haja uma resposta positiva). Enfim...dia desses, de bobeira passeando pelos blogs da vida, vi um sujeito escrevendo uma carta endereçada a ele mesmo, só que 10 anos depois. Coisa de amador. Fichinha em tempos de cápsula do tempo.
       Enfim, minha curiosidade por temas nada curiosos fez com que eu fuçasse até encontrar algo um pouco mais desafiador: alguém que escreveu uma carta a si mesmo, só que no passado. Achei interessante e resolvi fazer a minha versão:

Caro M.,

       Espero que esta carta te encontre com saúde (e se a estou escrevendo é porque encontrou). Na verdade "carta" é um modo de dizer, uma vez que se trata de um formato obsoleto até pra você que está aí em 1998. Enfim...
       Burro você não é, então deve ter sacado que quem te escreve é alguém do futuro. Pra ser mais exato, eu sou você aos 32 anos, 7 meses e 9 dias. Andiamo:

*Não estou rico. Parte da culpa é sua. Atribuo a outra parte da culpa aos "eus/nós" intermediários entre eu e você. Ou entre eu e eu. Whatever.

*Ainda moro em Londrina. E nunca fui para a Europa, Austrália e nem mesmo USA. Mas já fui pra Rondônia, que é quase a mesma distância.

*Ainda me interesso por coisas sem importância. Cultura inútil é comigo mesmo.

*Ainda ouço rock. Bastante. Mas, no tempo certo você vai descobrir outros estilos musicais.

*É mais fácil você parar de fumar do que deixar pra eu fazer isso por você.

*Você continua tímido. Menos, mas continua. E você continua bebendo. Mais, mas já foi pior. Beber não te faz extrovertido, só te deixa um bêbado tímido sem papas na língua. 

*Ressaca moral: ela realmente existe.

*Sabe aquela história de fazer sucesso com as músicas que você está começando a fazer? Ou então aquela história de viver dos livros que você escrever? Forget about it!

*Ainda sobre as coisas que você escreve/está escrevendo: lembro-me bem que eu/você/nós rasgamos e/ou queimamos boa parte disso. Muito obrigado.

*Lembro-me bem de você dizendo que jamais seria o cara da "Ouro De Tolo", do Raul Seixas. 
"Eu devia estar contente porque tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho 4 mail cruzeiros por mês". Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? Pois então...

*Não tente se matar. Nem pense em tentar se matar. Você não tem culhões para tanto. Agradeço por isso.
(sei que agora você deve estar puto comigo por causa do lance dos culhões. Se eu sei do que estou falando? Sou a prova viva disso...dãããããã).

*Já que estamos falando em ficar puto: você tem 15 anos e eu tenho 32. Sou mais velho. Portanto sei mais de você do que você mesmo. Conviva com isso. kkkkkkk

*Sabe aquela história de nunca se casar e nunca ter filhos? Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? Acredite nela.

*Li todos aqueles livros que você deixou de ler seja-lá-por-qual-motivo. Li outros tantos mais. Um dia você vai se arrepender de ter procrastinado, assim como eu procrastinei.

*Sei que alguns dizem que você "até que é inteligente". Outros dirão. E você continuará imaginando seu cérebro como uma azeitona de um dry martini.

*Sabe aquele lance de fazer coisas idiotas pra tentar se enturmar? Você finge que não, mas sabe que são coisas idiotas. Assim como são idiotas a maioria das pessoas com as quais você convive.

*Falando em convívio: sei bem que você conhece bastante gente, tem bem poucos amigos e se sente um completo outsider em cada círculo que frequenta. Odeio te desapontar, mas não mudou muita coisa.

*Nunca! Jamais na sua vida entregue um currículo que contenha o endereço de e-mail "heartless@...". Aliás, desconfie de qualquer garota que puxe papo na internet por causa do nickname "heartless". Melhor ainda: jamais use o nickname "heartless"!!!!

*Há muito não ponho os pés em uma igreja. Nem posso te dizer exatamente minha posição sobre a existência de Deus. E isso realmente não me importa. Um dia você vai descobrir que não precisa ir à igreja pra conhecer meninas. Aliás, vai agradecer por nunca ter tido um relacionamento duradouro com alguma dessas meninas que você conheceu na igreja.

*Não, não me casei com aquela loirinha que saiu do colégio no meio do ano. Sim, ela mesma: por mais que você esteja "nas nuvens", nem vai terminar o mês com ela.
(Você deve estar nervoso. Mas futuramente, ao vê-la, respirará aliviado).

*O fato de você achar que não tem sentimentos não quer dizer que as outras pessoas não os tenham. Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? É, meu jovem...

*Já que estamos falando de mulheres (meninas, no seu caso): nem toda boca precisa ser beijada e nem todo beijo merece ser lembrado.

*Se te servir de alento (por que consolo não é contigo/conosco): tenho um emprego bacana, uma família linda, não engordei tanto, não fiquei calvo e a penugem na sua cara é a barba na minha. Ah, sim: toco guitarra melhor do que você (o que não significa necessariamente que eu toque bem).

       Enfim...se eu bem te conheço, você vai ler tudo isso e ignorar por completo. É bom que seja assim. Porém, uma parte de mim suplica para que atenda a um último pedido: No dia 29/12/2001 (você já estará com 18 anos), jogue as dezenas 01-03-04-21-23-53 na mega sena da virada!!!!


domingo, 15 de março de 2015

Sobre o “pseudoapartidarismo” das manifestações e o LEGÍTIMO DIREITO de realizá-las:

Notas de um comentarista político diletante.
O problema começa no proclamado APARTIDARISMO dos ditos líderes das manifestações. Há apartidarismo? Perdoem-me, mas não é o que parece. Embaso-me, quando digo isso, tanto numa visão "micro" - as pautas defendidas pelos londrinenses, cujas críticas contemplam apenas o partido da presidenta...que nem sempre segue à risca o que reza o estatuto petista, seu histórico pessoal "radical-esquerdista-terrorista" na luta contra a ditadura militar ou até sua formação brizolista (haja vista ela ser uma das fundadoras do PDT e, por consequência, discípula do bom e velho e saudoso Leonel Brizola – aquele tinha culhões!!!) - ou na visão "macro", a nacional, que englobou tópicos que vão desde fim da corrupção (aquela coisa dita inata, congênita do brasileiro. Um estigma para o qual tentam encontrar justificativa nos tripulantes das caravelas de Cabral: os moradores das masmorras e as 'senhoras de vida fácil'?) a pedidos de intervenção militar.
 Enfim...voltando para Londrina (de onde observo os ocorridos) e as demais cidades paranaenses...o simples fato da não menção do nome do ilustre “piá de prédio”...aquele que ocupa o Palácio Iguaçu (para não falar da falta de um pedido de impeachment para o mesmo) já exclui o caráter APARTIDÁRIO do movimento. Pode-se facilmente transpor o mesmo raciocínio aos governos paulista, goiano e paraibano. No mínimo.
Existe uma distorção (proposital) daquilo que se entende por apartidarismo, notadamente visando ao atendimento de escusas conveniências: visões unilaterais da situação. Permitam-me um exemplo prático (pelo menos para os que acompanham meus posts e conversam comigo periodicamente, pessoalmente ou não): VOTEI NA DILMA NO SEGUNDO TURNO (sim, existe gente que tem culhões para assumir tal feito) e odiei a composição ministerial (descrevi isso dizendo que Dilma "cagou no pau").
Dizem-se apartidários, mas só apontam os dedos na direção de um único partido ou, insistindo no pseudoapartidarismo, na direção uma corrente político-ideológica: ESQUERDA. Mal sabem essas pessoas que o PT há tempos não se encaixa no molde esquerdista, como PSOL, PSTU et al. Esse "apartidarismo" que se viu nas "manifestanças" é fruto de pura lavagem cerebral midiática, haja vista que o atual governo se propôs a, finalmente, discutir e, quiçá, cortar as regalias dos (de)formadores de opinião. Enfim...é assim que percebo a coisa toda; considero-me de esquerda mesmo ciente da inaplicabilidade do comunismo/socialismo hoje em dia. Estamos na iminência de um regime “socialista" ou "comunista"? Não. O que houve então nos últimos 12 anos? A aproximação do pobre com o capitalismo: os menos favorecidos entraram em campo ao invés de continuarem exercendo o papel de gandulas:> hoje são parte integrante de uma cadeia alimentar perversa, que outrora lhes permitia apenas a participação no papel de famigeradas vítimas e presas.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

"E o rock, ó!!!"

"Só vim curtir meu rockzinho antigo. Que não tem perigo de assustar ninguém." (RAUL SEIXAS)

BUENAS!!!!

Será que, após quatro meses de hiato (sem atestado médico que o justifique) alguém lerá qualquer coisa postada aqui sem que eu tenha que apelar para o facebook ou twitter? Espero que não, uma vez que meu twitter também está às moscas...É falta de assunto generalizada.

Enfim...quatro meses de inatividade "bloguística" podem ser justificadas por intensa pesquisa por novos sons e processo semi-ininterrupto de composição aliados à correria que não me permite o ócio necessário para a atividade pseudoliterária? I hope so.
Milhares e milhares de bandas e rótulos e gente descolada/deslocada e (pseudo) imprensa especializada em divulgar novas bandas e alavancar/soprar carreiras (destino variável, de acordo com o jabá)...e o rock que é bom...

Explico. Tento, pelo menos. Rótulos. É um sem fim de "não-sei-o-que rock", "blábláblá rock", "anti-rock rock". Mas a dúvida é uma só: e o rock? Onde entra nessa história? Será que concorda?

Minha preguiça, aliada à queda de energia e falta de fontes para recarregar o note, não permite citar exemplos. Muito embora, em outra oportunidade na qual resolva tecer algo mais digno de créditos e não um mero desabafo, possa detalhar os exemplos (sim, eu até tenho estofo e os culhões necessários para tanto. Háááá´!!!!!!).

No fim das contas...neohippies, hipsters, "cults frígidas" (MARTINS, 2012), brochas, indies, "avenged sevenfolders", franjinhas, camisas xadrez, roupa da vó, molecada de gosto duvidoso e inconsequência calculada...enfim...tantos rótulos, tantas pesudoculturas e um só resultado: releituras bizarras de obras sublimes... fazer o máximo esforço para escantear o rock que, cá entre nós, aparece em proporções microscópicas...microcósmicas...e cada vez mais microcéfalas...

UMA DÚVIDA; Será apenas uma impressão minha?
UM MEDO: Uma negativa para a pergunta acima.

terça-feira, 30 de julho de 2013

LIFE IS WORTH LOSING (GEORGE CARLIN) - INTRO

Buenas!
Pense em um texto bom! Tão bom que eu fiz questão de compartilhá-lo. George Carlin mesmo morto ainda acerta na mosca. Na verdade é isso que somos/seremos/gostaríamos de ser. E infelizmente parece ser o rumo que nossa existência resolveu tomar. Retificando: o rumo que RESOLVEMOS tomar, o buraco negro onde parecemos jogar nossa existência.

"Eu sou um homem moderno, um homem do milénio.
Digital e sem fumo, um desconstrucionista multi-cultural
Pós-moderno, diversificado
Política, anatómica e ecologicamente incorreto.
Eu tenho sido transmitido e baixado
E fui ligado e terceirizado
Sei o beneficio de compactar, sei o malefício de actualizar.
Eu sou ralé da alta tecnologia
O topo de linha da crista da onda, um desenrascado navegante
E posso oferecer um gigabyte num nano segundo.
Eu sou a nova onda, mas à moda antiga
E minha criança interna está de saída.
Eu sou uma ligação directa, detector de calor
De boa freguesia, com comando de voz e biodegradável.
Eu conecto-me a uma base de dados, meu banco de dados está no ciberespaço
Assim sou interactivo, sou hiperactivo às vezes e sou radioativo.
Atrás dos problemas, à frente dos tempos
Surfando na maresia, driblando o perigo
Saindo dos limites.
Estou no ponto, a trabalho
Em mensagens e sem drogas.
Eu não preciso de coca-cola de verdade
Eu não desejo ressaca e vómito
Estou no momento, no limite
Bem no topo, mas fora de radar
Um alto conceito, de baixo perfil
De médio alcance balístico
Uma bomba inteligente suburbana
Um especialista oportunista
Eu uso gravatas poderosas, eu conto mentiras poderosas
Eu tiro sonecas perigosas
Eu dou volta olímpica
Eu sou o pé grande a caminho, persuasivo, bem sucedido de alcance provocador
Um trabalhador furioso compulsivo
Um furioso a trabalho compulsivo
Sem reabilitação e em negação
Eu tenho um treinador pessoal
Um comprador pessoal
Assistente pessoal
e.. uma agenda pessoal.
Não podem me calar
Não podem me trapacear
Porque sou incansável e sem-fio
Sou um macho alfa dominante em beta bloqueador
Sou um descrente e um superdotado
Sossegado, mas à frente da moda
Franco, simplório, miserável, carente de atenção.
Super tamanho, de longa duração
De efeito instantâneo, de alta definição
Pré pronto, e feito pra durar
Eu sou prático andarilho
Espontâneo, debilóide
Prematuramente pós-traumático
E tenho um amor de criança
Que me envia emails odiosos.
Mas estou sentindo
Estou preocupado, estou curando
Estou compartilhando
Um acompanhante apoiador, com laços afetivos
Minha produção esta em baixa, mas meus rendimentos estão em alta
Estou em posições de venda
No mercado de ações
E o meu fluxo de dinheiro, tem o seu próprio fluxo monetário
Leio porcarias do correio
Como porcarias
Compro títulos de merda
Assisto ao lixo dos jogos desportivos
Sou do género específico
Do capital intensivo
Usuário amigo, e intolerante à lactose
Eu gosto de sexo selvagem
Eu gosto do mal necessário
Uso a palavra F... em meu email
E o software em meu disco rígido
É explicito ,não pornografia leve
Eu comprei um microondas num mini shopping
Eu comprei uma carrinha num mega shopping
Eu como fast-food, na pista lenta
Eu sou 0800 do tamanho da boca
Pronto pra usar e venho em todos os tamanhos
Um milagre medido, bem equipado
Com garantia, clinicamente provado
Cientificamente formulado
E testado no hospital
Eu fui: pré-lavado, pré-cozido, pré-aquecido
Pré-examinado, pré-aprovado
Pré-embalado, pós-datado
Congelado, embrulhado
Mantido a vácuo.
E tenho uma ilimitada capacidade de banda larga
Eu sou um tipo rude, mas sou a coisa real
Magro e mau.
Engatilhado, trançado e pronto pra balançar
Áspero, severo e duro de enganar.
Eu pego leve e vou com o fluxo
Eu vou com a maré, eu deslizo em meu passo
Dirigindo e movendo
Velejando e fisgando
Mentindo e curtindo
Lamentando e ganhando
Não dormito. Então não perco
Eu mantenho o pedal no metal
E a borracha na estrada
Eu celebro. A hora do almoço, é a hora do aperto
Eu estou me mantendo, não há nenhuma dúvida
E eu estou firme
Em cima e fora."

George Carlin