sábado, 22 de outubro de 2016

Sonetando - 1 (inclui breve prefácio)

      "Novos horizontes: se não for isso, o que será?" (H. G.)
      Inicio assim uma nova série da minha parca e porca literatura. Uma vez que a vida anda carecida de guinada, há que se esforçar para suprir a necessidade. Nunca fui um grande leitor de poesia. nunca pensei nas coisas que escrevi ao longo da vida como poesia. Desde as paródias musicais pré-púberes às letras das músicas de quase todas as bandas autorais que integrei. Nunca vi meus escritos como poesia, ainda que bondosas almas afirmem haver poesia em um texto ou outro. Nem mesmo poemas. Considero-me da prosa, ainda que - na falta do etílico - não proseie tanto.
     Assim sendo, inauguro então uma série de sonetos sem título, organizados pelo marcador  "Obscuros são os caminhos do Senhor". A quem quer que os leia, antecipo que não há, da minha parte, qualquer pretensão maior que o desafio de escrever em um formato que nunca escrevi e, confesso, nunca fui grande leitor. Nada de riqueza rimática, temática e surpresas lexicais.
     Uma vez que a vida anda carecida de guinada - e anda! - vejam nesta nova série uma expressão sincera do meu desejo de ratificar a decisão tomada. Fora a necessidade de desabafar sem dar bafão.


Soneto 1

viver de bem, já que agora é pra ser assim
ao que passou: dar um aceno e esquecer
memórias que, parecem, nunca hão de morrer
o que era "dois", tornado em cada um por si

livre é quem ama e sabe aceitar o fim
ou simplesmente não deixa transparecer
cede ao sorriso o lugar que cabe ao sofrer
olvida o que passou em prol do que há por vir

teste fatal, em que sempre há sobrevivente
ileso - ou sequelado, com feridas a curar
não torne mais pesado o fardo a carregar

dê uma chance pra si mesmo e então verá
e, em um belo dia, irá sorrir ao se lembrar
regozijar por ter lutado bravamente.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sobre cachorros

      O mal nunca morre e o diabo nunca dorme. Desgraça pouca é bobagem. Adversidades têm crescimento diretamente proporcional em relação ao desgaste que causam. Nunca acaba: só "raleia".
      Vigilante noturno passa de moto às 2h45 seguido de uma matilha de cachorros. Seria um cortejo? Estariam eles sedentos de vingança e famintos por justiça "com as próprias patas", fosse o caso de atropelamento de um membro da "cãofraria"?
      Pois bem...eram 2h45 e eu deveria estar dormindo. Mas resolvi que seria melhor ficar fumando na varanda. Velhos hábitos, quando deixados de lado e dados como mortos, retornam com sangue nos olhos e com muita vontade de compensar o tempo perdido. E trazem consigo válidas constatações. Choques de realidade mais doloridos que o encontro de salto 15 e testículos. Havia um tempo em que eu reclamava por acordar de madrugada para fumar. Hoje a igreja glorifica de pé nos momentos de cochilo entre os cigarros. Caralho: comprei um pacote com dez maços sábado e já acabou tudo.
      Mas eu queria mesmo é falar sobre a matilha que seguia a moto. Nunca vi tantos cachorros de rua por estas bandas. Contei 13. Havia mais. Mesmo eu, que passo longe de ser um defensor dos animais, fiquei preocupado e pensei sobre alguma situação atípica que poderia tê-los afugentado. Não sei. Assim como não sei do paradeiro deles. Mas pude notar que, por pior que seja o fim que os aguarda, eles hão de enfrentá-lo juntos. Um por todos e todos por um.
       O mal nunca morre e o diabo nunca dorme. Desgraça pouca é bobagem. Adversidades têm crescimento diretamente proporcional em relação ao desgaste que causam. Nunca acaba: só "raleia".Mas eles hão de resistir, ainda que sem êxito. Juntos. Invejo-os.

sábado, 26 de março de 2016

Carta ao "antes/passado"

       Well, well, well... óinóisaquitravêiz. Alguém sentiu minha falta? Não respondam (embora eu prefira acreditar que haja uma resposta positiva). Enfim...dia desses, de bobeira passeando pelos blogs da vida, vi um sujeito escrevendo uma carta endereçada a ele mesmo, só que 10 anos depois. Coisa de amador. Fichinha em tempos de cápsula do tempo.
       Enfim, minha curiosidade por temas nada curiosos fez com que eu fuçasse até encontrar algo um pouco mais desafiador: alguém que escreveu uma carta a si mesmo, só que no passado. Achei interessante e resolvi fazer a minha versão:

Caro M.,

       Espero que esta carta te encontre com saúde (e se a estou escrevendo é porque encontrou). Na verdade "carta" é um modo de dizer, uma vez que se trata de um formato obsoleto até pra você que está aí em 1998. Enfim...
       Burro você não é, então deve ter sacado que quem te escreve é alguém do futuro. Pra ser mais exato, eu sou você aos 32 anos, 7 meses e 9 dias. Andiamo:

*Não estou rico. Parte da culpa é sua. Atribuo a outra parte da culpa aos "eus/nós" intermediários entre eu e você. Ou entre eu e eu. Whatever.

*Ainda moro em Londrina. E nunca fui para a Europa, Austrália e nem mesmo USA. Mas já fui pra Rondônia, que é quase a mesma distância.

*Ainda me interesso por coisas sem importância. Cultura inútil é comigo mesmo.

*Ainda ouço rock. Bastante. Mas, no tempo certo você vai descobrir outros estilos musicais.

*É mais fácil você parar de fumar do que deixar pra eu fazer isso por você.

*Você continua tímido. Menos, mas continua. E você continua bebendo. Mais, mas já foi pior. Beber não te faz extrovertido, só te deixa um bêbado tímido sem papas na língua. 

*Ressaca moral: ela realmente existe.

*Sabe aquela história de fazer sucesso com as músicas que você está começando a fazer? Ou então aquela história de viver dos livros que você escrever? Forget about it!

*Ainda sobre as coisas que você escreve/está escrevendo: lembro-me bem que eu/você/nós rasgamos e/ou queimamos boa parte disso. Muito obrigado.

*Lembro-me bem de você dizendo que jamais seria o cara da "Ouro De Tolo", do Raul Seixas. 
"Eu devia estar contente porque tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho 4 mail cruzeiros por mês". Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? Pois então...

*Não tente se matar. Nem pense em tentar se matar. Você não tem culhões para tanto. Agradeço por isso.
(sei que agora você deve estar puto comigo por causa do lance dos culhões. Se eu sei do que estou falando? Sou a prova viva disso...dãããããã).

*Já que estamos falando em ficar puto: você tem 15 anos e eu tenho 32. Sou mais velho. Portanto sei mais de você do que você mesmo. Conviva com isso. kkkkkkk

*Sabe aquela história de nunca se casar e nunca ter filhos? Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? Acredite nela.

*Li todos aqueles livros que você deixou de ler seja-lá-por-qual-motivo. Li outros tantos mais. Um dia você vai se arrepender de ter procrastinado, assim como eu procrastinei.

*Sei que alguns dizem que você "até que é inteligente". Outros dirão. E você continuará imaginando seu cérebro como uma azeitona de um dry martini.

*Sabe aquele lance de fazer coisas idiotas pra tentar se enturmar? Você finge que não, mas sabe que são coisas idiotas. Assim como são idiotas a maioria das pessoas com as quais você convive.

*Falando em convívio: sei bem que você conhece bastante gente, tem bem poucos amigos e se sente um completo outsider em cada círculo que frequenta. Odeio te desapontar, mas não mudou muita coisa.

*Nunca! Jamais na sua vida entregue um currículo que contenha o endereço de e-mail "heartless@...". Aliás, desconfie de qualquer garota que puxe papo na internet por causa do nickname "heartless". Melhor ainda: jamais use o nickname "heartless"!!!!

*Há muito não ponho os pés em uma igreja. Nem posso te dizer exatamente minha posição sobre a existência de Deus. E isso realmente não me importa. Um dia você vai descobrir que não precisa ir à igreja pra conhecer meninas. Aliás, vai agradecer por nunca ter tido um relacionamento duradouro com alguma dessas meninas que você conheceu na igreja.

*Não, não me casei com aquela loirinha que saiu do colégio no meio do ano. Sim, ela mesma: por mais que você esteja "nas nuvens", nem vai terminar o mês com ela.
(Você deve estar nervoso. Mas futuramente, ao vê-la, respirará aliviado).

*O fato de você achar que não tem sentimentos não quer dizer que as outras pessoas não os tenham. Sabe quando a mãe diz que a língua é o chicote da bunda? É, meu jovem...

*Já que estamos falando de mulheres (meninas, no seu caso): nem toda boca precisa ser beijada e nem todo beijo merece ser lembrado.

*Se te servir de alento (por que consolo não é contigo/conosco): tenho um emprego bacana, uma família linda, não engordei tanto, não fiquei calvo e a penugem na sua cara é a barba na minha. Ah, sim: toco guitarra melhor do que você (o que não significa necessariamente que eu toque bem).

       Enfim...se eu bem te conheço, você vai ler tudo isso e ignorar por completo. É bom que seja assim. Porém, uma parte de mim suplica para que atenda a um último pedido: No dia 29/12/2001 (você já estará com 18 anos), jogue as dezenas 01-03-04-21-23-53 na mega sena da virada!!!!